JOAO

100 anos de Artigas e a arquitetura catarinense

Até que ponto os arquitetos contemporâneos catarinenses estão comprometidos com o pensamento e com as lições da arquitetura feita por Artigas?

2015, este é o ano em que Vilanova Artigas estaria completando 100 anos. Oxalá pudesse estar ainda entre nós. Este texto busca homenagear o arquiteto, mestre e professor Vilanova Artigas, e todo o seu legado arquitetônico que nos foi deixado.

Podemos citar alguns eventos que marcaram o ano em torno desta data como a Exposição Vilanova Artigas no Museu Oscar Niemeyer em Curitiba, o documentário “Vilanova Artigas, o arquiteto e a luz”, assim como o Docomomo São Paulo e o evento da FAU-USP trataram sobre o assunto, entre outros pequenos acontecimentos, mas creio que seja pouco se levarmos em conta o grau de importância de Artigas na historiografia brasileira de arquitetura.

Para quem é arquiteto e interessado por arquitetura moderna como os arquitetos bem intencionados da minha geração certamente o vemos como o grande mestre da arquitetura brasileira.

Arquiteto militante, social, professor efervescido, considerado o pai da arquitetura paulista, pensador, o mestre Artigas era tudo isto.

Os exemplares arquitetônicos que nos deixou moldou, ou ao menos, delineou toda uma escola de arquitetura que dali se desenvolveu, também rotulada como escola brutalista paulista.

E foi projetando uma escola de arquitetura, a FAU-USP de São Paulo que Artigas projetou e viu ser construída a sua obra prima de arquitetura.

Nascido em Curitiba, aqui na região Sul, Artigas foi a São Paulo, centro financeiro, econômico e educacional do país para lá marcar a história da arquitetura de nosso país.

Vilnova Artigas e sua arquitetura, as vezes andaram juntas e outras vezes ao menos influenciaram alguns arquitetos com história em nosso estado de Santa Catarina.

Ligado a ele, podemos citar o arquiteto catarinense Pedro Paulo de Melo Saraiva, manézinho nascido em 1933, que junto a Paulo Mendes da Rocha foi assistente de Artigas, quando este era professor da FAU-USP durante a década de 60. PPMS possui projetos exemplares da arquitetura moderna brutalista brasileira, como o Edifício Acal, com um brilhante cobogó em concreto aparente nas 4 fachadas e o Edifício Capitânea, com composição moderna de uma caixa sob uma torre quadrada, além do Palácio da Justiça, todo em concreto aparente, construído na capital catarinense.

Outro arquiteto com raízes em Santa Catarina, que atuou na mesma época de Artigas e que projetou obras de grande significado dentro do conjunto que representa a arquitetura brutalista brasileira, foi o austríaco Hans Broos (1921-2011) que, ao chegar no Brasil em 1956, radicou-se na cidade de Blumenau, antes de mudar-se para São Paulo, onde projetou a Igreja São Bonifácio (1965), primeira igreja toda em concreto. Em nosso estado figuram seus projetos para os parques fabris da empresa Hering como exemplos da arquitetura que surge da técnica do concreto armado e reflete as características brutalistas que conhecemos.

Estes arquitetos e tantos outros eram de alguma maneira influenciados ou até mesmo seguidores do mestre Artigas e deixaram em nosso estado e em nosso país belos exemplares desta arquitetura chamada brutalista.

Diante destes poucos fatos, e certamente há muitos outros, podemos afirmar que uma parcela da arquitetura moderna catarinense possui bases e raízes neste episódio da arquitetura moderna brasileira, a qual tem no mestre Artigas as bases de uma nova forma de pensar e fazer arquitetura.

O prédio da FAU, edifício símbolo da arquitetura moderna paulista, brutalista e brasileira, é definido por Angelo Bucci como uma grande aula de arquitetura, onde percebemos espaços de diversas alturas, o espaço organizador central, a forma organizada pela estrutura, a cobertura única, a ausência de portas de entrada, entre outros.

Ao completar 100 anos desde seu nascimento, e 46 anos depois de ser concluído o seu edifício ícone, é certo que Artigas continua a interessar e a influenciar mais do que nunca.

A arquitetura de Artigas é universal, brasileira, desafia a técnica do concreto armado, desenha os pormenores, busca fazer o ponto de apoio cantar.

Mais do que trazer à tona alguns pontos da obra e vida do grande arquiteto João Batista Vilanova Artigas, os quais estão de alguma maneira relacionados com arquitetos e obras catarinenses, este texto busca questionar se hoje nós, arquitetos catarinenses contemporâneos, herdeiros da tradição modernista, estamos ou não vinculados aos ensinamentos do mestre Artigas?

Até que ponto a arquitetura produzida nesta primeira metade do século XXI em Santa Catarina explora as lições deste grande mestre da arquitetura brasileira?

Até que ponto as obras de arquitetura produzidas hoje em nosso estado podem ser consideradas como uma continuação desta arquitetura brasileira que tanto nos orgulha?

Será que nós arquitetos catarinenses estamos conseguindo olhar para este legado arquitetônico e apreender com o que nos foi deixado?

Até que ponto estamos comprometidos com esta maneira de ver e fazer arquitetura que o grande mestre Artigas e outros seguidores muito claramente nos mostraram?

E ainda, até que ponto as escolas de arquitetura de nosso estado estão comprometidas em ensinar e divulgar as lições desta arquitetura moderna, brutalista e brasileira, que engloba grande parte das obras de qualidade construídas no Brasil?

Enfim, parafraseando o livro “Caminhos da arquitetura” de Artigas, pergunto, quais caminhos da arquitetura podemos trilhar tendo a consciência da herança de nosso recente passado moderno, mas sempre apontando para o presente e para o futuro?

Pelas lições de arquitetura, muito obrigado, João Batista Vilanova Artigas.

 

JOAO

 

João Batista Vilanova Artigas (1915-1985)  – Fonte: site archdaily.com.br

 

 

 

FOTO 1

Faculdade de Arquitetura e Urbansimo (FAU-USP) (1969) – João Batista Vilanova Artigas

Fonte: site archdaily.com.br

 

FOTO 2

Palácio da Justição, Santa Catarina (1969) – Pedro Paulo de Melo Saraiva, Francisco Petracco e Sammi Bussab _ Fonte (http://fpetracco.com.br)

 

FOTO3

Hering. Satélite de Ibirama (1977), Hans Broos –   Fonte: site archdaily.com.br

 

Pablo José Vailatti é arquiteto e urbanista (UNERJ – SC, 2002), possui curso de Projeto Urbano Avançado com o arquiteto Hélio Pinon (ESCOLA DA CIDADE – SP, 2102). Frequenta anualmente seminários de arquitetura moderna (DOCOMOMO). É professor de projeto na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UNIFEBE, Brusque SC.

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