O que se quer com o Novo Recife?
Apenas um projeto imobiliário encravado no Cais José Estelita ou uma reabilitação dos bairros do Cabanga, São José e Santo Antonio?
O que, em princípio, pode parecer antagônico, na realidade, não é.
Se pensarmos apenas num empreendimento imobiliário em uma região degradada do Recife, mas dotada de grandes atrativos ambientais e de localização para a moradia da classe alta, o empreendimento teria seu sucesso garantido.
Seria, sem dúvida, um produto de alto retorno financeiro para o consórcio Novo Recife e uma ótima escolha para moradia de qualidade.
Se é que estamos buscando a inserção qualitativa de uma porção degradada do Recife ao seu tecido urbano, atingiremos de uma só vez, quatro objetivos estruturadores, tendo como premissa o fato de que a gestão pública retome o seu papel de planejamento e de regulação da cidade.
Acreditando nesta alternativa clamada pela sociedade civil, este momento é oportunidade de alcançarmos simultaneamente tais objetivos:
Na dimensão ambiental, o primeiro objetivo precisa ser a conclusão de mais uma etapa da requalificação do ambiente estuarino e de sua paisagem histórica, imagem consolidada de nossa cidade portuária, já iniciada com a reabilitação do Bairro do Recife.
Urge resgatar esta paisagem para o uso público dos espaços e do estuário do Cais José Estelita como área de lazer e esportes náuticos para os recifenses e consolidar mais um “cartão postal” para o Recife do Futuro.
Já no que se refere à dimensão social, neste momento de Brasil Grande, precisamos de fato reinserir ao mercado de trabalho e à geração de emprego e renda da população que vive no entorno daquela região, capacitando-a para as oportunidades de negócio que surgirão a partir do empreendimento e não só nos canteiros de obras;
Na dimensão territorial, precisamos resgatar importantes conexões viárias e implantar outras, naquele território que é histórico elo entre o centro expandido do Recife e a zona sul, com alto impacto positivo na mobilidade da região metropolitana.
Não podemos perder esta oportunidade, pois este trecho requalificado contribuirá para aliviar o trânsito da Avenida Agamenon Magalhães:poderemos implantar uma rota direta e fluida, de abrangência metropolitana entre o Bairro da Boa Vista com a Zona Sul, garantindo a utilidade efetiva da ponte Joaquim Cardozo, localizada nos Coelhos, hoje obsoleta. Com esta ação garantiremos mais permeabilidade urbana desde o Bairro de Santo Amaro, passando pela Boa vista, Coelhos, Polo Médico e Jurídico.
Poderemos também, resgatar à malha urbana a sempre ociosa Avenida Dantas Barreto, desejo de toda a comunidade técnica envolvida com a dimensão urbanística, integrando-a ao Cabanga. Este é um débito que o Estado tem com nossa cidade. Importante patrimônio histórico do centro do Recife foi abaixo nos anos 1970 e nestas quatro décadas assistimos esta larga avenida ligar nada a lugar nenhum.
Esta oportunidade é única, constatando as profundas transformações que já estão acontecendo e irão acontecer nos próximos anos na região do Pina, Cabanga e Ilha do Leite. Este “leito” que corta o Cabanga precisa ser viabilizado.
Vejam quantas oportunidades está a nossa frente, poderemos ainda, lutar pela implantação de uma linha de VLT ligando o terminal de Afogados ao Bairro do Recife, em um circuito metroviário, e ainda, uma estação de metrô do Cabanga, algo factível em consultas já feitas à CBTU.
A terceira dimensão – a dimensão econômica financeira já está posta. Já se conseguiu depois de tantos trabalhos e lutas, convencer a iniciativa privada investir em áreas degradadas, que guardam diferenciais extremamente competitivos no mercado imobiliário do Recife. O próprio empreendimento em si pode se tornar um empreendimento de impacto qualitativo na dinâmica urbana do Recife, potencializando ainda mais o retorno do investimento para a iniciativa privada e para a qualidade de vida dos novos moradores dos prédios.
Isso é o que se chama de um Projeto de Reabilitação Integrada de Áreas Degradadas.
Será tudo – Recife poderá voltar a ser, mais uma vez, protagonista de um projeto de desenho urbano como ícone do Brasil do futuro.
Uma cidade mais humana, onde o recifense volte a ser a escala e o centro das concepções inovadoras que os arquitetos e urbanistas pernambucanos podem e sabem fazer.
Podemos ser dessa forma, ícone de um Estado moderno que assume o seu papel de protagonismo da gestão publica transparente e eficaz, de uma iniciativa privada empreendedora no presente, de uma comunidade engajada e consciente, que sabem colocar em prática parcerias, capitais e expertises, em prol da valorização do solo urbano, da maximização do capital privado investido e da gestão eficiente na cidade em busca da verdadeira qualidade de vida.
Vinte anos depois, a Utopia Viva pode se tornar realidade.
Vitória Régia Andrade
Arquiteta e Urbanista
Presidente do IAB PE
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