Também ex-presidente do IAB-RS e vice-presidente da UIA, ele pediu que em seu caixão se estenda uma faixa amarela escrito Arquitetura

Faleceu na manhã desta quinta-feira (15/05), o arquiteto Miguel Pereira, conselheiro federal do CAU/BR, representando o Estado de São Paulo, ex-presidente (por três mandatos) do IAB nacional, ex-presidente do IAB do Rio Grande do Sul e ex-vice-presidente da UIA.

 

Miguel Pereira teve uma parada cardíaca em sua pousada na região de Florianópolis, onde buscava recuperação depois de longo tempo internado. Em 25 de novembro de 2013, o arquiteto submeteu-se a uma cirurgia emergencial em consequência de um acidente vascular cerebral (AVC).  Segundo familiares, o arquiteto deixou um pedido: que sobre seu caixão seja estendida uma faixa amarela com a palavra Arquitetura. Não queria ninguém triste.

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Há exatamente um ano, em maio de 2013, o arquiteto reuniu arquitetos, amigos e alguns de seus colegas do CAU para lançar o livro “Arquitetando a Esperança”, na Livraria da Vila, em São Paulo.

Dividido em seis capítulos que contam a trajetória profissional do arquiteto, o livro, editado pela Pini, traz histórias desde 1957 quando Miguel se formou na Universidade até os dias atuais e sua forte luta pela política profissional. Assim, a publicação retrata a formação, a prática profissional, os principais projetos, o exercício da docência, a preocupação com a pesquisa e a política profissional – questão que preenche o discurso do arquiteto.

“Montei-me em uma prática profissional com as duas faces da moeda, na prancheta e no discurso da arquitetura, e por isso eu tenho uma facilidade de frequentar a academia e me tornei um pesquisador, escrevi livros e não podia deixar de escrever aquilo que foi sempre uma provocação e um entusiasmo: a política profissional”, afirmou Miguel Pereira.

Dos projetos apresentados no livro, figuram residências, edifícios institucionais e algumas propostas para concursos de arquitetura. Além disso, o autor comenta sobre as parcerias de trabalho e sobre os escritórios em que trabalhou.

Para explicar um pouco mais sobre o estilo de fácil leitura empregado no livro, que é quase uma biografia do autor, Miguel comenta: “eu não queria fazer um livro de compêndio, eu queria fazer um livro de projetos com pouco texto e indicando a minha geografia”.

ALFORRIA E MAIORIDADE DA CATEGORIA – Em 16 de fevereiro de 2011, escreveu a seguinte carta para a jornalista Éride Moura, da revista Projeto, em resposta a uma pergunta sobre o significado da criação do CAU. Eis a íntegra:

“Prezada Éride

Perdoe-me pela demora . Essa falta de pressa deve-se ao merecido repouso dos guerreiros . Uma jornada, assim, de meio século cansa qualquer maquis da arquitetura . Como sobrevivente, nessa longa batalha, já temia não poder festejar essa grande vitória .

A partir de 31/12/2010, tudo mudou na vida dos arquitetos brasileiros.

A auto-estima e o fragor do patrimônio moral , acumulados ao longo dessa extenuante batalha, são os responsáveis pela ALFORRIA e a MAIORIDADE de uma profissão, nascida bastarda, no interior do Sistema CREAs/CONFEA, decretado por Getúlio Vargas, em 1933 . Até então, sempre fomos uma profissão minoritária, humilhada e ofendida . Agora, temos o respaldo legal, promulgado pelo Presidente LULA , para podermos discutir e decidir sobre a nossa prática profissional, para podermos discutir e decidir sobre nossa formação profissional. Construiremos o nosso Código de Ética. Construiremos o nosso Código de Responsabilidade Técnica. Queremos ser uma profissão obediente aos preceitos do Código Civil Brasileiro e do Código de Defesa do Consumidor . Queremos ser uma profissão responsável perante a Nação Brasileira.

Seremos uma profissão protegida, prestigiada e dignificada. Não haverá perdas. Os ganhos serão cotidianos e permanentes.

O processo de transição do Sistema CREAs/CONFEA para o CAU deverá acontecer pacificamente. A batalha já está ganha. Nossos experts saberão equacionar as estratégias adequadas. Não haverá dificuldades de recursos que possam ser diferentes daquelas que o próprio Sistema CREAs/CONFEA teve , quando de sua implantação.

Quanto ao futuro próximo, e aquele distante, penso que o CBA – Colégio Brasileiro de Arquitetos – deva continuar desempenhando um papel fundamental de convivência entre as Entidades Nacionais de Arquitetos – ABAP/ABEA/AsBEA/FNA/IAB. Será a tribuna adequada no trato dos problemas comuns de nossa profissão. Explorada adequadamente sua potencialidade, poderá vir a ser a grande expressão cultural e política dos arquitetos brasileiros.

Penso , finalmente, que o Presidente LULA deva ser o grande homenageado pelo CBA, o Colégio das entidades profissionais dos arquitetos .

Miguel Pereira”

 

Leia:

Dissertação de Larissa Garcia Campagner (pós-FAU/USP) sobre a obra do arquiteto

 

Veja a entrevista de Miguel Pereira ao CAU/BR: A Arquitetura e Urbanismo e o papel do CAU

 

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