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O arquiteto João da Gama Filgueiras Lima, conhecido como “Lelé”, morreu nesta quarta-feira (21), aos 82 anos, no Hospital Sarah Kubitschek, em Salvador. Ele estava internado após o agravamento de um câncer de próstata.

Lelé desenvolveu o conjunto arquitetônico da rede Sarah no país. O idealizador do projeto, o médico-ortopedista Aloysio Campos da Paz Jr, falou sobre a parceria. ” Ele criou os espaços que permitiram a implantação de uma cultura em medicina de reabilitação, que, por meio de gerações, vem beneficiando milhares de brasileiros. Alguns são honrados com monumentos depois da vida. O Lelé ergueu os seus monumentos em vida e eles são a maior testemunha de seu gênio”, disse.

Dentre outros, na Bahia, projetou o prédio da prefeitura de Salvador, chamado de Palácio Tomé de Souza, e o Centro Administrativo da Bahia (CAB), onde fica a Governadoria. Em Salvador, ele ainda é responsável pelos desenhos das passarelas, do Tribunal de Contas da União, do Mercado Municipal de Paripe, do Convento de Brotas, da Igreja dos Alagados, da Estação da Lapa e dos antigos pontos de ônibus.

Arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé (Foto: Reprodução/TV Bahia)
Arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé
(Foto: Reprodução/TV Bahia)

O corpo vai ser velado às 7h de quinta-feira (22) na Igreja Ascensão do Senhor, localizada no CAB e projetada por ele. “Aqui, ele criou um lugar especial, com um simbolismo, conseguiu captar a ideia de ascensão com o formato helicoidal. A gente busca respeitar todo o espaço, o modernismo brutalista. O espaço sagrado é importantíssimo”, diz padre Manoel de Oliveira.

O enterro do arquiteto carioca vai ser em Brasília, na ala de pioneiros do Cemitério Campo da Esperança. Ele deixa três filhas e três netos.

Lelé iniciou a carreira junto a Oscar Niemeyer na construção de Brasília e se consagrou como um arquiteto que realiza projetos modernistas, comprometido com a integração arquitetônica à paisagem, assim como com o contexto cultural.

O Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), ao lamentar o falecimento, lembra que o colega Lúcio Costa o considerava um dos três mais importantes nomes. “Ele foi responsável por obras que transformaram a forma como o Brasil olhava sua arquitetura. Desde o trabalho na construção de Brasília, passando pela criação da Fábrica de Escolas do Rio de Janeiro e do Centros Integrados de Educação Pública no Rio de Janeiro (ambos em parceria com Darcy Ribeiro), pela Fábrica de Equipamentos Comunitários em Salvador até o desenvolvimento do Centro de Tecnologia da Rede SARAH de Hospitais, ele soube como ninguém unir técnica e arte, função e sensibilidade”, afirma o texto do IAB.

Em 2012, ele ganhou a considerada mais importante premiação de arquitetura das Américas, a Medalha de Ouro  da Federação Pan-Americana de Associações de Arquitetos (FPAA). Em 1998 e 2002, recebeu o Prêmio da Bienal Ibero-Aamericana de Arquitetura e Engenharia; já em 2001, o Grande Prêmio Latino-Americano na 9ª Bienal Internacional de Arquitetura. Na literatura, em 2013, foi um dos vencedores do Prêmio Jabuti, com o livro “Arquitetura: Uma Experiência na Área da Saúde”.

“Lelé deixa um material enorme na questão da indústria da construção. Desde Brasília, começa a se interessar pela questão do pré-moldado e isso vai culminar, já na época de Mario Kertész [radialista e ex-prefeito], quando é convidado para coordenar uma fábrica de prémoldado, com o que fez todos os pontos de ônibus, a estrutura das primeiras passarelas, as escadas drenantes para todo o Vale do Camurujipe. Isso foi revolucionário para o período”, diz a professora Naia Alban, diretora da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Segundo ela, a argamassa armada vira foco de pesquisa e matéria-prima dos projetos de Lelé, possibilitando estruturas delgadas e leves.

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