Trechos de um artigo do Arq. Edson Mahfuz, professor de projetos da Faculdade de Arquitetura da UFRGS, na Revista Arquitextos do Portal Vitruvis. (foto: Abilio Guerra).
A arquitetura consumida na fogueira das vaidades
Talvez não se trate de uma percepção generalizada, mas a arquitetura brasileira atravessa uma fase de decadência acentuada que já se estende por quase quatro décadas, coincidindo o seu início com a inauguração de Brasília.
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O que teria acontecido com a arquitetura que despertou o interesse do mundo nas décadas de 40 e 50, e nos colocou no mapa da arquitetura internacional como um local de produção cultural, mais do que de reprodução? Teriam nossos arquitetos perdido sua capacidade criativa?
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Trata-se de uma mudança radical de atitude de muitos arquitetos em relação à própria arquitetura e ao seu trabalho. Vale recordar que, pelo menos até o final do regime militar no Brasil, a arquitetura era vista como uma profissão com um papel social definido, e aqueles que nela ingressavam tinham a esperança de contribuir para a elevação da qualidade de vida do maior número de pessoas. Hoje, a máxima aspiração de grande parte dos jovens arquitetos é participar de eventos como Casa Cor e similares.[…]
O projeto arquitetônico que segue a moda pode até ser o sucesso de hoje, mas com mais certeza será o embaraço de amanhã, e o ridículo de depois de amanhã.
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No sentido atual, atuar em arquitetura como “prestador de serviços” significa uma rendição quase total aos desejos do cliente e às imposições do mercado e a conseqüente perda da dimensão cultural da arquitetura. O arquiteto “prestador de serviços” abraça com devoção uma prática que muda ao sabor das modas, não importando a sua relevância ou falta de. Se a tendência é a arquitetura da Califórnia, por que não segui-la? O importante é estar “alinhado com o mercado”, no dizer de um caderno local de “arquitetura”.
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O resultado do exposto acima é uma situação em que nossas cidades estão se tornando uma espantosa mistura de Disneylândia com Las Vegas. Nossa arquitetura deixou de freqüentar as melhores publicações estrangeiras. É claro que ainda há bons arquitetos no Brasil, mas sua produção é numericamente insignificante perante a quantidade de má arquitetura que é produzida rotineiramente. A situação atual pode ser descrita por meio de um clichê antigo mas ainda válido: há muita construção e pouquíssima arquitetura.
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