“A fotografia de arquitetura tem que expressar o melhor do que o arquiteto idealizou, sua digital, sua obra.” A afirmação é do fotógrafo Fernando Willadino, que, há 17 anos registra o trabalho de arquitetos, designers de interiores e decoradores. Brasiliense, está radicado em Florianópolis desde 1994, na mesma época em que iniciou sua carreira como fotógrafo, documentando viagens.

Fernando foi fotógrafo oficial de 14 mostras de decoração no estado catarinense, trabalhou no jornal Diário Catarinense, produzindo material para o antigo caderno de arquitetura e decoração Casa Nova (depois Casa e Cia) e tem atendido a clientes ligados ao cenário de arquitetura, produzindo material para editoriais e peças publicitárias.

No próximo dia 26 de maio, ele ministrará o workshop “Fotografia de Arquitetura e Interiores – Módulo I”, com oito horas de duração, no hub Casacanto, localizado na rua Luiz Delfino 146, no Centro de Florianópolis. A iniciativa é uma realização em parceria com o IAB/SC. O objetivo é orientar profissionais de fotografia, arquitetura e design de interiores na captura, tratamento e finalização de imagens de estruturas arquitetônicas e ambientes internos. O próximo módulo, ainda em formatação, estará mais voltado à prática e à formatação das imagens. Clique aqui e saiba mais.

No artigo a seguir, Fernando Willadino apresenta aspectos técnicos da fotografia de arquitetura e destaca os quatro principais elementos da boa fotografia. Confira:

 

‘Fotografia expressa a arte da arquitetura’

Por Fernando Willadino

A primeira foto da história foi de uma estrutura arquitetônica. Isso ocorreu em 1816, quando o francês Joseph Nicéphore Niepce conseguiu sensibilizar, num pedaço de papel, uma imagem da janela de seu quarto. Devido às limitações técnicas da época e a necessidade de um tempo de exposição muito prolongado, os fotógrafos escolhiam monumentos ou paisagens para fazerem essa nova arte aparecer. Ou seja, a fotografia de arquitetura nasceu junto com a fotografia em si.

No decorrer do tempo, os equipamentos foram evoluindo, reduzindo de tamanho e surgindo novos acessórios e tecnologias. Hoje em dia, um aparelho celular, que quase todos têm acesso, pode produzir imagens com ótima qualidade e instantaneidade. No entanto, é interessante registrar que o fotógrafo de arquitetura continua utilizando uma câmera sobre um tripé e quase sempre com longas exposições, num ritual de trabalho parecido com nossos antecessores. Isso não é só uma tradição. Tem um motivo técnico. Com a câmera no tripé, o fotógrafo consegue trabalhar melhor o enquadramento e a exposição mais longa permite uma profundidade de campo maior.

A fotografia de arquitetura difere bastante da fotografia de pessoas, pois o objeto a ser fotografado não vai se mover nem mudar de expressão. Por outro lado, existem variáveis que alteram profundamente o resultado final de uma fotografia de arquitetura, e a principal é a luz. A direção e a intensidade da luz, assim como a influência de iluminação artificial, modificam completamente o resultado final do registro de uma estrutura arquitetônica ou do ambiente a ser fotografado.

Outro aspecto muito importante é a delimitação do espaço, assim como o ângulo a ser escolhido. Neste caso, o posicionamento da câmera e a escolha da lente são elementos fundamentais.

Também temos que levar em consideração a fotografia como uma linguagem para expressar um ponto de vista ou um conceito. A foto pode ser mais artística ou mais informativa.

O resultado desse conjunto de fatores irá definir a qualidade da imagem final. Um fotógrafo experiente, normalmente, vai tomar as decisões adequadas para conseguir uma boa foto. Por outro lado, uma pessoa que não tenha muito conhecimento sobre o assunto deverá estar atenta para não cometer os seguintes erros:

1 – Convergência ou divergência de linhas verticais e horizontais – Quando o fotógrafo posiciona a câmera deve atentar para que as linhas (paredes, texturas com linhas, aberturas etc) estejam retas. Quando elas estão convergindo ou divergindo fica a sensação de que o prédio ou as paredes estão tortos.

2 – Enquadramento e composição – muitas vezes, o cliente te pede para aparecer ‘tudo’ na foto. Mostrar o projeto inteiro. Para isso, o fotógrafo tem que usar uma supergrande angular. O uso dessas lentes tem que ser muito bem pensado, pois, normalmente, essas fotos ficam distorcidas, os objetos que estão perto ficam muito grandes e os afastados muito pequenos. Além disso, aparece muito chão e muito teto. O ideal é tentar fazer um enquadramento equilibrado, tentando compor os elementos interessantes do projeto com proporcionalidade. Muitas vezes, a foto de uma parte do ambiente ou a composição de alguns elementos expressam bem o conceito do projeto.

3 – Iluminação – esse é o item mais complexo. Os filmes antigos, assim como os sensores atuais, não ‘enxergam’ como nossos olhos. A natureza nos deu uma amplitude de visão que conseguimos ver altas luzes e baixas luzes ao mesmo tempo. Na fotografia é diferente, pois a amplitude de captação do sensor é muito menor. Temos que escolher a exposição adequada para a cena fotometrando (medindo a luz) as diversas áreas enquadradas. Muitas vezes, temos que adicionar luz para eliminar pontos muito escuros e evitar que as altas luzes fiquem estouradas. Outras vezes, temos que esperar a melhor hora do dia para equilibrar as luzes.

4 – Temperatura de cor – ainda relacionado à iluminação, a temperatura de cor do projeto luminotécnico tem sempre que ser levado em consideração. As luzes variam de 2.000 (luz quente) até 7.000 (luz fria) graus Kelvin, passando por várias tonalidades. Na hora da foto, temos que decidir o tom (quente ou frio) que temos que estabelecer para melhor mostrar a ideia do projeto. Uma escolha de temperatura de cor errada pode comprometer a foto mudando o clima que o projeto pretende passar e até mesmo alterando as cores dos objetos.

E qual a importância de tudo isso? O trabalho final deverá expressar o que há de belo, de inovador, de conceitual, de funcional e interessante. Além disso, será o registro para o profissional da conclusão de um projeto que envolveu várias etapas e que consumiu tempo e recursos. Ou seja, a fotografia de arquitetura tem que expressar o melhor do que o arquiteto idealizou, sua digital, sua obra.

Assim, fotografia e arquitetura dialogam entre si. A fotografia expressa a arte da arquitetura, que por sua vez, serve de inspiração para o fotógrafo.

 

Fotos: Fernando Willadino

 

Na foto frontal, atenção para as linhas verticais, horizontais e ponto de fuga. O equilíbrio dos elementos também valoriza uma boa imagem. (Projeto da arquiteta Roberta Zimmermann)
Museu do Olho - Oscar Niemeyer, em Curitiba - equilíbrio da Luz natural com a iluminação artificial
Fonte: http://revistaarea.com.br/fotografia-expressa-a-arte-da-arquitetura/#