De que lado você está? Roberto Ghione

La 18e conference sur le climat de l'Onu a demarre le 26 novembre 2012. Les 195 pays qui ont ratifie le protocole de Kyoto se sont reunis pour evoquer l'avenir de la planete. L'enjeu principal sera d'arriver a un accord pour prolonger le protocole de Kyoto

 

 

“Whose side are you on, Yale?” (“Do lado de quem você está, Yale?”) cantam os estudantes em sinal de protesto contra os suculentos subsídios das empresas que estimulam as pesquisas de desenvolvimento com energias não renováveis e poluentes, provocando constrangimento nas autoridades da prestigiosa universidade norte-americana. Eles exigem os desinvestimentos e a orientação das pesquisas para a sustentabilidade e o desenvolvimento de energias limpas, perante a exaustão predatória, o aquecimento global e as catastróficas consequências que preanunciam as mudanças climáticas.

 

 

Como essa, inúmeras manifestações ocorrem pelo mundo, alertando e se opondo a um estado de situação e a um paradigma de desenvolvimento que conduze o planeta para a autodestruição. Diversos acontecimentos se tornaram frequentes no nosso contexto, como a recente tragédia social e ambiental da barragem estourada em Mariana, que evidencia a exaustão e contaminação do patrimônio natural, a ausência ou pouca intensidade de controle e fiscalização oficial e as suspeitas de promiscuidade entre interesses públicos e privados.

 

Essas manifestações marcam um divisor de águas entre passado e futuro, entre o velho e o novo, entre a caducidade ideológica que perdura a exaustão irresponsável e a juventude que exige o direito à vida em um planeta limpo, entre a persistência do Século XX e seu desenvolvimento sujo e consumista, e o Século XXI, com propostas saudáveis e renováveis.

 

Em momentos de crise terminal, como a que o planeta experimenta com o aquecimento global e as catástrofes ambientais, o desafio maior consiste em deter a inercia ideológica e de comportamentos que preservam interesses criados e perduram em zona de conforto os setores que se beneficiam política e economicamente do estado de situação existente, especialmente em sociedades de economia emergente.

Perante o grau de insustentabilidade e fragilidade ambiental, posições mornas ou conciliadoras com os privilégios e interesses dominantes resultam inócuas. Atitudes e decisões corajosas, orientadas para um novo paradigma de desenvolvimento limpo, são necessárias para a própria preservação do planeta e da espécie. Os objetivos da COP 21, a Conferência Mundial do Clima, que será realizada em Paris entre 30 de novembro e 11 de dezembro, pretendem definir os compromissos de todos os países para limitar o aquecimento em 2ºC e orientar o cumprimento dessas metas até 2021.

 

E você, de que lado está nestas questões? De que lado eu estou? A situação exige uma analise cuidadosa de valores e comportamentos, não só em escala global, mas no cotidiano, assumindo mudanças culturais e pessoais, especialmente nos critérios de consumo e preservação dos bens naturais.

 

O dilema se repete no campo específico da arquitetura e do urbanismo. Cidade e arquitetura representam a materialização condensada no território dos paradigmas de desenvolvimento assumidos socialmente. Os valores e a consciência em relação á preservação dos bens naturais e à adaptação da arquitetura às condicionantes climáticas merecem reconsideração para equilibrar o progressivo afastamento em função da valorização comercial dos recursos artificiais. Soluções de projeto baseadas nas condições do clima tropical, assim como recursos inteligentes favoráveis à convivência entre arquitetura e natureza (cobogós, peitoris ventilados, fachadas sombreadas, estruturação dos espaços favorecendo a ventilação cruzada, etc.) foram, pouco a pouco, deixados de lado por soluções pasteurizadas, comerciais, insustentáveis e caras, que não apenas favorecem determinados interesses empresariais, como destroem qualquer intento de desenvolver culturas construtivas e expressões formais e espaciais originais, autênticas e adaptadas.

 

No campo do urbanismo, as cidades manifestam a evidente insustentabilidade na imagem caótica, na exclusão social, na desqualificação do espaço público, na fragmentação em unidades autodefensivas, na precariedade do transporte público e na discriminação e oposição entre grupos de diferentes níveis de renda, que estimulam a violência e a desintegração. O aspecto contraditório desta situação é a classificação de sustentabilidade de determinados edifícios ou de empresas que constroem estimulando os aspectos apontados, evidenciando a total desconexão entre os valores da arquitetura e da cidade.

 

No Brasil existem mais de 130.000 arquitetos registrados, que emitem mais de 800.000 Registros de Responsabilidade Técnica ao ano. Esses números expressivos não conseguem superar (salvo as exceções de rigor) a inercia ideológica e de interesses que impedem realizar a qualificação da arquitetura como produto cultural e como serviço à sociedade, assim como as transformações urbanas acordes com as exigências e consciência de vanguarda do Século XXI.

 

O debate democrático e qualificado, e a tomada de posições enérgicas e clarificadoras, tornam-se imprescindíveis perante a situação calamitosa provocada pelo aquecimento global e pela desintegração social, consequência da ausência de urbanidade nas cidades. Debate necessário para que a sociedade em geral, e as entidades de classe em particular, definam de que lado se posicionam perante um problema vital. E você, de que lado vai se posicionar?

 

Roberto Ghione

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