ARTIGO :Nivaldo Vieira de Andrade Júnior
Muitos soteropolitanos nunca ouviram falar em Diógenes Rebouças, embora passem diariamente por espaços concebidos por ele ou frequentem edifícios que foram projetados por sua imaginação fértil. Arquiteto, urbanista, professor e pintor, Rebouças foi interlocutor privilegiado de políticos, empresários e intelectuais como Otávio Mangabeira, Anísio Teixeira, Rômulo Almeida, Norberto Odebrecht, Odorico Tavares, Godofredo Filho e Lina Bo Bardi, dentre muitos outros. Embora nascido em Amargosa, Rebouças conhecia como poucos o acidentado relevo da capital baiana e sabia como ninguém tirar partido da topografia para produzir edifícios e espaços urbanos magnificamente implantados, gerando vistas excepcionais, como as que se tem a partir das residências construídas no loteamento Morro Ipiranga ou quando se desce a Avenida Contorno – ambos projetos urbanísticos de sua autoria.
Na década de 1940, foi, junto com Mário Leal Ferreira, o responsável por uma verdadeira revolução na capital baiana, através da elaboração do primeiro plano de urbanismo moderno de Salvador. O Plano do EPUCS propôs a criação de uma rede de avenidas arborizadas nos vales dos rios urbanos, das quais a Avenida Centenário foi a primeira e a mais perfeita tradução. Além disso, dotou a cidade de equipamentos urbanos indispensáveis, como o Hotel da Bahia, a Penitenciária Lemos de Brito e o Teatro Castro Alves, o único destes equipamentos cujo projeto não foi elaborado diretamente por Rebouças.
A parceria com Anísio Teixeira, quando este ocupou a Secretaria de Educação do estado, no governo Mangabeira (1947-51), resultou na obra mais impactante de Rebouças: a Escola Parque (Centro Educacional Carneiro Ribeiro). O projeto pedagógico anisiano, de formação em tempo integral, gratuita e humanista, foi interpretado por Rebouças em um conjunto de belíssimos pavilhões em concreto que ainda hoje impressionam os que o visitam e servem de referência para os mais avançados projetos educacionais do país, como os Centros Educacionais Unificados (CEU), construídos na capital paulista a partir de 2001.
Para apresentar a obra de Rebouças às novas gerações e relembrar sua contribuição para a modernização arquitetônica e urbanística de Salvador e de outras cidades brasileiras, como Jequié, Itaparica, Paulo Afonso, Aracaju e Maceió, o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-BA) e a Faculdade de Arquitetura da Ufba estão promovendo a exposição Diógenes Rebouças: Cidade Arquitetura Patrimônio, no foyer do Teatro Castro Alves, de 13 de agosto a 8 de setembro, de terça a domingo, das 12h às 18h. Através de 39 painéis com reproduções de fotos e plantas originais e de 16 maquetes elaboradas especialmente para essa exposição, os visitantes poderão conhecer, gratuitamente, a vasta produção de Rebouças em seus 60 anos de atuação
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