Concurso públicos – NA PRAIA DOS CONCURSOS, A BUSCA POR UM LUGAR AO SOL

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COLOCAR NA MESMA CONDIÇÃO DE COMPETIR (E VENCER) ARQUITETOS RECÉM-SAÍDOS DAS ESCOLAS E PROFISSIONAIS/ESCRITÓRIOS COM DÉCADAS DE EXPERIÊNCIA É UMA DAS INEGÁVEIS VIRTUDES DOS CONCURSOS PÚBLICOS DE ARQUITETURA. AS 16 COMPETIÇÕES REALIZADAS AO LONGO DO ANO DE 2014 (NÚMERO APURADO PELA REVISTA ELETRÔNICA CONCURSOSDEPROJETO.ORG E QUE ESTÁ ACIMA DA MÉDIA HISTÓRICA) MOSTRAM COMO ISSO SE DEU, E O PANORAMA TRAÇADO NO TEXTO A SEGUIR PROCURA REGISTRAR ALGUNS DETALHES DELAS.

 
Meio a sério, meio de galhofa, o arquiteto Hector Vigliécca arrancou risos da plateia ao responder se existia um segredo que levava seu escritório a triunfar tanto em concursos de arquitetura. Para a diversão do público que acompanhava, no Centro Cultural Maria Antônia, em São Paulo, no segundo semestre de 2013, o lançamento de uma publicação sobre suas obras, disse que evitava consultar os organizadores sobre a permissão (ou não) de determinada abordagem, porque podia chamar a atenção sobre algo de que eles nem tivessem se dado conta.

Nem todos se sentirão à vontade para trilhar esse caminho – ou talvez não tenham para isso a maturidade de Vigliécca, que em 40 anos de profissão participou de aproximadamente cem competições -, enfrentando (ou afrontando) os limites do edital. Mas a verdade é que para o escritório de Vigliécca esse princípio parece funcionar, tanto que a proposta apresentada por ele foi a escolhida no recente concurso para o anexo da Biblioteca Nacional, que deverá ser implantado na região portuária da capital fluminense. O resultado foi anunciado no final do ano passado.

É recomendável, porém, certa cautela para seguir a dica, pois existe o risco de o júri dar conta da transgressão e desclassificar o trabalho. Não de forma deliberada, talvez a “recomendação” tenha sido adotada pelo Griffo Arquitetura, de Curitiba, no projeto que desenhou para a unidade do Sesc/SP
a ser construída em Osasco, cidade da Região Metropolitana de São Paulo, em concurso cujo resultado saiu no começo de 2014. O júri não identificou, numa primeira avaliação, que o vencedor ocupava áreas do terreno que o edital previa manter livres e desconsiderava recuos com relação à posição dos taludes existentes.

 

SEGUNDO VIROU PRIMEIRO
A desobediência provavelmente teria passado despercebida se o escritório classificado em segundo lugar (Spadoni & Associados Arquitetura) não tivesse contestado formalmente o resultado. Inicialmente, a instituição desconsiderou o recurso, mas depois reconheceu sua validade. Para a surpresa de todos (incluindo os impetrantes), o Sesc/SP desclassificou também os outros finalistas (reposicionamento que fez com que deixassem de ser remunerados) e atribuiu a vitória à equipe de Francisco Spadoni.
O recurso do estúdio paranaense e dos outros competidores, defendendo a manutenção do resultado inicial, não foi acolhido pelo Sesc/SP, e os arquitetos recorreram à Justiça para que ela decida se deve prevalecer a primeira decisão dos jurados. Na opinião de Igor Costa Spanger, um dos sócios do Griffo, a solução desenhada pelo estúdio era um projeto básico e, por isso mesmo, sujeita a ajustes.

DISSABORES DISTINTOS
O recuo diante dessas contestações é pouco usual – e essa foi uma das análises que o Griffo considerou para levar a demanda à Justiça -, mas também não inédito (o concurso para o Paço Municipal de Várzea Paulista é um exemplo). Já o choro dos perdedores é quase tão recorrente quanto a alegria dos vencedores, embora um arquiteto experiente na participação nesses certames tenha certa vez, com sarcasmo, observado que a frustração do segundo lugar se compara ao futuro desencanto do vencedor. Pois no Brasil, ele argumentava, dificilmente o ganhador verá seu projeto transformado em obra.

Vigliécca experimentou esse dissabor mais de uma vez (uma delas com a modernização do Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo), assim como Renato e Lílian, casal que está à frente do escritório Dal Pian Arquitetos. Em 2014, o trabalho proposto por eles – uma grande caixa de acontecimentos, como definiram – foi o vencedor no concurso para o Centro Cultural, de Eventos e Exposições (CCEE) em Paraty, RJ, mas até o início deste ano não tinham sido contratados para desenvolver o projeto.

PREFERÊNCIA POR CONCURSOS
Cabo Frio e Nova Friburgo foram duas outras cidades fluminenses para as quais, na mesma ocasião, o governo do Rio de Janeiro selecionou projetos para os CCEE. Nas duas, o vencedor foi o Estúdio 41, de Curitiba. Em entrevista concedida ao IAB/RJ, Dario Correa Durce, sócio do escritório paranaense, observou que a empresa foi constituída quase que exclusivamente para participar de concursos. O conjunto de Nova Friburgo foi avaliado pelo júri como proposta de estrutura simples e beleza singela, enquanto o de Cabo Frio, nas palavras de Durce, tem como principal virtude a qualidade da implantação.

A mesma escola que comporta concurseiros experientes como Vigliécca, os Dal Pian e profissionais de gerações mais recentes, como os do Estúdio 41, é também frequentada pelo time mezzo gaúcho, mezzo uruguaio do Mapa Arquitetos, que chegou na frente dos Dal Pian no concurso do Sindicato dos Engenheiros, na capital gaúcha. Nesse trabalho, a equipe – integrada, entre outros, por Luciano Andrades, Matías Carballal e Rochelle de Castro – desenhou uma edificação aberta que tira partido do caráter público daquela instituição.

No mesmo edifício em Porto Alegre onde fica a base do Mapa também opera o Metropolitano Arquitetos, do qual faz parte Camila Thiesen, jovem profissional que concorre na mesma seara dos colegas com quem compartilha o imóvel. Camila, que compôs a equipe vencedora da competição para revitalizar as instalações da biblioteca da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, levou, ano passado, o prêmio pelo concurso de recuparação do centro histórico de São José, em Santa Catarina, nos trechos da cidade situados entre duas igrejas históricas e na zona central do município, local dos principais espaços públicos e edifícios históricos.

CONCURSOS NO SUL
Pertencente à mesma geração da gaúcha Camila, o paranaense Henrique Zulian (formado em 2011 pela Universidade Federal de Santa Catarina) debutou no posto de primeiro classificado em concursos públicos de arquitetura três anos após sua graduação. Com o projeto para a adequação e requalificação do Mercado Público de Lages, SC, ele e os parceiros Talita Broering, Vinícius Figueiredo e Vito Zanatta deixaram para trás mais de 40 propostas que visavam requalificar a edificação construída nos anos 1940 e caracterizada por seu estilo art déco. O edital determinava a manutenção do edifício.

“O vencedor se distanciou dos demais pela qualidade e proposição de atender todas as exigências e critérios impostos. Surpreendeu-nos tanto pela beleza quanto pela solução técnica, ambientalmente correta, e por uma nova leitura de cidade”, avalizou o secretário de Planejamento de Lages, o também arquiteto Jorge Raineski.
Na galeria de laureados em concursos, outro jovem gaúcho veio marcar presença: Lucas Obino. A rigor, não o próprio Obino, mas o Ospa Arquitetura e Urbanismo, escritório do qual ele, junto com Carolina Souza Pinto, é sócio fundador. O estúdio levou a melhor no concurso para o campus da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), que será implantado em Canoas, na região metropolitana da capital. O conceito do projeto é o de uma praça fluida e permeável, abordagem que contrasta com a densidade sugerida pelo programa.

Já em modalidade de licitação, na qual a transformação do projeto em obra costuma patinar, o escritório Corsi Hirano é exceção. A primeira competição que eles ganharam (e que os levou a constituir o escritório) foi a do complexo do Tribunal Regional do Trabalho, em Goiânia, e o edifício foi construído (leia PROJETOdesign 393, novembro de 2012). A boa estrela dos sócios Daniel Corsi da Silva e Dani Hirano no Centro-Oeste (que não se repetiu em São Paulo, pois a proposta deles para o Museu de Ciências da Unicamp, na cidade de Campinas, não foi adiante) será colocada à prova na região Sul, onde a dupla ganhou no ano passado, em conjunto como Laura Pardo e André Sauaia, o concurso para a sede administrativa da Câmara Municipal de Porto Alegre. O resultado foi anunciado em novembro.

MILÃO E BELO HORIZONTE
Na praia dos concurseiros, uma presença que vem se fazendo notar nos últimos anos – quando a trajetória anterior do seu titular parecia caminhar noutra direção – é a do Studio Arthur Casas. Em janeiro de 2014, o projeto do escritório foi anunciado como vencedor do concurso para o pavilhão que deverá representar o Brasil na próxima exposição mundial, em Milão, na Itália. Antes, o estúdio tinha sido ganhador dos certames para o campus Cabral da UFPR, em Curitiba, para a requalificação de largos do Pelourinho, em Salvador (ambos em 2012), e para o novo Centro Administrativo do Maranhão (2013).

Vários são os centros administrativos públicos projetados e não construídos que entraram para os anais dos concursos no país. A oportunidade de o arquiteto mineiro Gustavo Penna romper essa rotina lhe foi concedida em meados de 2014, quando a proposta de seu escritório foi escolhida para ser implantada em terreno no centro de Belo Horizonte, próximo da rodoviária local. A intervenção é, além de arquitetônica, urbanística, pois à torre de 13 pavimentos e 100 mil metros quadrados de área construída soma-se a criação de uma esplanada que pretende conectar a rodoviária com a Lagoinha, bairro da zona oeste da capital mineira.

Quem, depois de uma carreira consolidada como professora da FAU/USP, ampliou sua participação no competitivo mundo dos concursos – várias vezes em colaboração com arquitetos mais jovens, antigos alunos – é Helena Ayoub Silva. É do escritório que leva seu nome o projeto escolhido pela Secretaria da Cultura do estado de São Paulo para restaurar a estação ferroviária de Mairinque, município próximo de Sorocaba. Do início do século passado, a edificação, projetada por Victor Dubugras (um dos primeiros prédios de concreto armado erguidos no Brasil), abriga atualmente um museu ferroviário.

MUSEU NA PAULISTA
O mesmo edital do qual Helena participou também demandava o restauro de um imóvel na avenida Paulista, em São Paulo: o casarão Franco de Mello, que o governo do estado pretende converter em sede do Museu da Diversidade Sexual. O programa igualmente pedia um edifício anexo e projeto paisagístico para o lote, mas nesse caso a melhor resposta foi a do escritório paulistano H+F Arquitetos, dos arquitetos Pablo Hereñú e Eduardo Ferroni. Entre as estratégias adotadas, está a de remover os muros do casarão voltados para a avenida e, com isso, manifestar um gesto de abertura e um convite à visitação.

No universo dos concursos públicos de arquitetura acabam se revelando talentos que poderiam ficar encobertos se a escolha se desse apenas em função de currículos. É o caso do arquiteto carioca Daniel Gusmão, que desenhou a solução para a ampliação da sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), competição disputada sob intensa polêmica e que, em determinado momento, chegou a colocar em posições antagônicas o IAB e o CAU. Se de fato for implantado, o edifício – um volume horizontal que tem como elemento mais marcante um rasgo inclinado (uma rampa de acesso) na face envidraçada, facilmente associável à da sede do Museu da Imagem e do Som (MIS), atualmente em construção em Copacabana – se tornará o segundo projeto de Gusmão com grande visibilidade na capital fluminense. O primeiro é o do Parque Olímpico – Rio 2016, capitaneado por Gusmão e pelo americano Bill Hanway para a empresa inglesa Aecom.

LAPA NO RIO E ORLA EM VITÓRIA
O mesmo MIS que constrói nova sede em Copacabana (projeto do escritório norte-americano Diller Scofidio + Renfro) lançou concurso para a requalificação espacial e funcional da sua unidade administrativa, localizada na rua Visconde de Maranguape, na Lapa. A intenção da Secretaria da Cultura estadual, a quem o museu está subordinado, é tornar o conjunto (rebatizado de MIS Pro) capaz de abrigar a reserva técnica da instituição, acomodar seus laboratórios e espaços de pesquisa, além de uma área expositiva de menor porte. A vitória nessa competição coube ao Metrópole Arquitetos, de São Paulo, com a equipe constituída por Sílvio Oksman, Beatriz Vicino, Marjorie Nasser Prandini e Vito Macchione. Para a comissão julgadora, o projeto é uma solução concisa que agrupa de maneira simples e racional os blocos construídos, permitindo que sobressaiam os espaços não edificados. Os jurados destacaram, ainda, a beleza da paisagem interna do edifício, resultante da relação da volumetria com os vazios.

Enquanto o MIS Pro é uma intervenção com foco na arquitetura, a prefeitura de Vitória estava à procura de solução urbanística (mas também arquitetônica) para a orla noroeste da baía da capital. Lançou mão, então, de um concurso de estudos preliminares para aquela parte do município, considerada a menos favorecida da cidade. A área de intervenção estimada é de 760 mil metros quadrados (incluindo terrenos privados) e na metade de 2014 foi anunciada vencedora da competição a equipe formada por Patrícia Padilha (Brasil), Sara Wolfs (Bélgica), Jordi Puigvert (Espanha) e Paula Jofré (Chile). Denominada pelos autores Orla Viva, a intervenção está estruturada em oito pontos. A equipe sugere, por exemplo, a implantação de um calçadão contínuo, com mais de dez quilômetros de extensão, a fim de interligar duas dezenas de bairros da capital, o que se estima que beneficiaria cerca de 70 mil moradores. Outros elementos são a implantação de um polo gastronômico na ilha das Caieiras e de uma estação ecológica na ilha do Lameirão. “Potenciar as características do lugar, gerar oportunidades através da incorporação de novos usos e atividades são os pontos que constroem a base do DNA das ações”, conceitua a equipe.

O RIO DE PIRACICABA
Como na solução idealizada para a zona noroeste da capital capixaba, a água é um elemento fundamental em Piracicaba, município do interior de São Paulo que divulgou, em meados de dezembro, o resultado do concurso para a requalificação do parque do Mirante, que fica na margem direita do rio que tem o nome da cidade. Pedro Fernandez de Bona, Camila Leibholz, Alexandre Gervásio, Érico Botteselli e Lucas Thomé (todos formados pela Escola da Cidade) são os autores do trabalho vencedor. Com exceção de Camila, os demais são sócios no escritório Grupo Garoa. Entre as várias qualidades observadas na proposta, o júri destacou a generosa praça a ser construída ao redor do Engenho Central. De acordo com o memorial descritivo do projeto, os principais elementos da intervenção são: a implantação de eixos no sentido transversal aos percursos existentes, tornando-os mais acessíveis e estabelecendo uma relação visual e física com o rio, com o entorno e com o próprio parque; a reestruturação de alguns dos espaços existentes, propondo novos programas que desempenham o papel de incentivar o uso mais frequente do equipamento; e a inserção de módulos que se distribuem nos caminhos do parque, abrigando atividades de apoio por toda a sua extensão.

LONGE DE CASA
O estúdio carioca RVBA Arquitetos deu o primeiro (e bem-sucedido) passo nas competições arquitetônicas em cidade distante de sua base. Para a Baixinha de Santo Antônio, no bairro de São Gonçalo do Retiro, na periferia de Salvador, o escritório (dos arquitetos Rodrigo Bocater, Adriano Bruno e Luiz Felipe Vasconcelos), junto com Juliana Sicuro e Victor Garcez, elaborou o estudo urbanístico-arquitetônico vencedor de uma competição realizada pelo governo local. O trabalho repercutiu positivamente entre a comissão julgadora, presidida pelo arquiteto uruguaio Mariano Arana, que já foi prefeito de Montevidéu. Os jurados destacaram a boa definição do plano urbanístico – especialmente pela atenção que ele dedica aos pontos do assentamento que merecem ser preservados -, ressaltando também a criação de dois núcleos com moradias, serviços e espaços públicos em áreas atualmente frágeis e de menor aproveitamento.
Como se nota nesse panorama, para a satisfação dos arquitetos brasileiros, que, em sua maioria, são favoráveis à contratação de projetos por intermédio de concursos públicos, essa modalidade de licitação tem se tornado cada vez mais comum. Resta, porém, ver, nos próximos anos, quanto dessa arquitetura virtual se tornará real.

ALEMANHA 200 x 16 BRASIL
Mais de 11 milhões de visualizações desde que foi lançado, em 2008, com média de 250 mil visitas a cada mês. Esses eram, até o final do ano passado, os números contabilizados pelo arquiteto Fabiano Sobreira, editor do portal e revista eletrônica concursosdeprojetos.org.br. Foi parte desse públicos que participou dos 16 concursos de arquitetura realizados no Brasil em 2014 segundo os registros do portal – não contabilizados concursos locais, de ideias ou ensaios e voltados para estudantes.

“A média histórica no Brasil é inferior a dez concursos anuais, números bem limitados se comparados aos dos países europeus. Na Alemanha, por exemplo, são mais de 200 por ano, enquanto no Brasil, na última década, foram realizados apenas 99”, informa Sobreira. Para ele, o concurso é a melhor forma de selecionar projetos. “A competição tem enfoque na qualidade do projeto e não no currículo de quem projeta ou no preço. É bom para a sociedade, por privilegiar a qualidade da arquitetura e das cidades em processo transparente e democrático; bom para a administração pública, pois oferece a melhor opção a partir de um rico repertório de soluções; e bom para a profissão, pois valoriza o projeto”, argumenta.

Sobreira explica que possíveis desvantagens ou limitações podem ser resolvidas com outras formatações. Para equacionar a questão do alto custo necessário à participação, por exemplo, ele sugere minimizar o produto inicial, com o objetivo de diminuir o investimento dos escritórios, limitando o projeto a um estudo preliminar, suficiente para identificar a melhor proposta, sem desenvolvimentos desnecessários. “Em alguns casos, pode-se promover o concurso em duas etapas, remunerando os participantes da etapa final”, exemplifica. Na sua opinião, também seria melhor investir em competições por meio eletrônico, que reduzem os gastos de quem organiza e de quem participa.

Os concursos de arquitetura são a forma mais democrática de captar projetos e, consequentemente, trabalhos, na opinião do arquiteto Renato Dal Pian, que, junto com a sócia e esposa, Lílian, contabilizava até meados de janeiro a participação em 46 concursos, com 23 premiações. “Por nos exigir empenho, enorme dedicação e alto investimento, selecionamos competições com temas instigantes, que apresentem em seu edital garantias da contratação do projeto por valores condizentes”, ele conta, analisando que essa modalidade de contratação qualifica a arquitetura e permite ao contratante a escolha, entre as várias opções, daquela que melhor atenda suas demandas.

Para Dal Pian, a natureza anônima do concurso privilegia o mérito. “Acredito que uma obra realizada por meio de concurso seja boa para o cliente, para a sociedade, para a profissão e para o arquiteto.” Ele aponta como aspecto negativo desses certames a intenção inicial, por vezes deliberada, do cliente em não dar continuidade ao processo licitatório, usando o trabalho dos arquitetos apenas como ferramenta de autopromoção.

Já Hector Vigliécca, que participou de aproximadamente cem concursos em 40 anos de profissão, conta que logo que abriu seu escritório procurava participar de concursos mais simples. “Acredito que o principal critério para a escolha do concurso está ligado à época e ao potencial de que dispõe o escritório, tanto humano quanto de recursos financeiros. Hoje, podemos selecionar os mais complexos”, afirma. Ele também considera o concurso a modalidade mais democrática para a contratação de projetos. “Nela, currículo ou vínculos políticos não tomam parte na decisão. Apenas a qualidade do projeto importa”, conclui.

Texto de Adilson Melendez| Publicada originalmente em Projeto Design na Edição 418

 

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