O Plano Diretor Participativo de Florianópolis, elaborado pela prefeitura, não passou no teste da audiência pública. Moradores de diversas regiões da cidade ocuparam nesta quinta-feira o Teatro Álvaro de Carvalho (TAC) e impediram a apresentação do documento, protestando com faixas, discursos e narizes de palhaço.
Segundo os manifestantes, a motivação para o protesto é que as propostas das comunidades não foram contempladas no projeto que define as estratégias para a organização e o crescimento da Capital.
Faixas foram distribuídas na entrada e em vários locais do TAC, com frases como “O povo pediu, mas não levou”; “O Campeche não optou pela verticalização”; “O povo não é palhaço”; “Esse plano não é nosso”.
No início da audiência, quando o mestre de cerimônias estava falando, começaram as vaias. Quase nada dava para ser escutado. E logo os manifestantes subiram ao palco e tomaram o microfone da mão dele. Houve um pequeno empurra-empurra neste momento.
Ruptura nas discussões
De acordo com o professor de arquitetura e urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Lino Peres, representante da universidade nas discussões do projeto, a manifestação é resultado de uma ruptura que aconteceu em 2008.
— Até lá, as comunidades participaram do processo com suas propostas. Mas, no fim de 2008, a prefeitura, de forma arbitrária, suspendeu o Núcleo Gestor Municipal e os núcleos distritais. Foi um processo ilegítimo que culminou com isso aqui — afirmou.
Tamanho dos prédios causa polêmica
A principal reclamação diz respeito ao tamanho dos prédios. De acordo a engenheira química e ambiental Cristina Cardoso Neves, que foi representante distrital em Ingleses, o bairro não queria construções com mais de dois andares.
— Já temos problemas com falta de água e saneamento básico. As ruas não comportam mais tantos carros. Com este plano poderão ser construídos prédios com três andares em alguns locais e com quatro na orla. Será mais gente no bairro sem a devida infraestrutura.
Este tipo de reclamação era feita por moradores de outras localidades, principalmente os da Lagoa da Conceição e do Campeche. Mas também havia outras queixas, como a de uma moradora da Barra do Sambaqui.
— No plano permite edifícios em cima da Reserva de Carijós, que é uma área de preservação permanente — protestou Adriana Ferreira.
Câmara vai receber o projeto na terça-feira
Apesar dos protestos, o presidente do Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (Ipuf), Átila Rocha, confirmou que o projeto será encaminhado para a Câmara de Vereadores na terça-feira, dia do aniversário da Capital. Mas novas manifestações serão realizadas durante a entrega.
De acordo com Rocha, o plano foi altamente discutido com a comunidade há quatro anos. Afirmou também que as propostas foram apresentadas em oficinas realizadas em dezembro e março.
— Certas comunidades não chegaram a um consenso. Com elas, vamos discutir 40 anos e não vamos chegar a lugar nenhum — declarou.
Átila usou um exemplo para mostrar a dificuldade em atender aos anseios das comunidades.
— No Pântano do Sul há um terreno de 1 milhão de metros quadrados. A comunidade queria um parque urbano, mas não tem como. O terreno é particular. Imagina quanto isso custaria para a prefeitura.
Segundo o presidente do Ipuf, o plano diretor conta com um instrumento chamado de solução consorciada. Neste terreno, por exemplo, os prédios poderiam ser mais altos para que uma parcela dele seja usado como área para a comunidade.
Plano será debatido na Câmara de Vereadores
Na Câmara de Vereadores, o plano será debatido novamente. Os legisladores vão analisar o projeto, fazer audiência pública e podem apresentar propostas. A menos que o Ministério Público Federal (MPF) entre com uma ação civil pública. Em meados do ano passado, a procuradora do MPF Analúcia Hartmann recomendou que as discussões com as comunidades fossem retomadas. A prefeitura alegou que a etapa era técnica e que ia levar em consideração as diretrizes.
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